Uma vez na tv, eu vi o velório de uma celebridade holandesa que passou desta para melhor. A filha do defunto falou no velório e vendo a maneira dela falar, falei para Marko na hora: “Mas nem parece que foi o pai dela que morreu, a mulher tá falando como se estivesse lendo um texto na internet, não cai nenhuma lágrima”. Aí vem a resposta de Marko, que quase sempre me surpreende em momentos assim: “mas pra que ela vai chorar? É desnecessario ela mostrar que está triste. Isto nós todos sabemos”.
E assim é aqui. Demonstrações exacerbadas de alegria, tristeza são mal vistas (veja que o conceito exacerbado ganha uma outro sentido visto que eles acham o nosso normal exacerbado).
Em holandês não se diz “estou MUITO triste, feliz, decepcionado, apaixonado ou qualquer outro adjetivo”. O que eles falam é: estou UM POUCO triste, feliz...Note que eles dizem este um pouco mas o que eles querem expressar é que estão muito!Caso um holandês estiver um pouco triste, ele simplesmente não vai mencionar.
Essa maneira de se expressar pode ser uma das causas pelas quais eles são considerados frios. Imagine só: o filho chega em casa feliz da vida porque tirou um 10 e o pai diz: ok meu filho, estou UM POUCO orgulhoso! Uma criança no Brasil com certeza iria ficar meio decepcionada...
Outro dia um amigo disse sobre meu filho: ele é um pouco bonito...No Brasil quem é um pouco bonito é na verdade muito feio. Aqui tive que me readaptar e entender que isto foi um elogio muito convincente.
Numa sociedade onde demonstrar sentimentos é visto como desequilíbrio emocional,fraqueza e sei lá mais o que, temos uma populaçao enorme de pessoas sozinhas. Homens e mulheres na fase dos 30-40 anos de idade que nunca tiveram namorado (a). Para vocês terem idéia da dimensão do problema, teve até um programa na televisão uns meses atrás falando disso. O governo está preocupado com a taxa de natalidade porque a população não está se juntando para ter bebês. Há estudos, terapeutas e tudo que se possa imaginar para incentivar que a populaçao vá namorar/ paquerar e se abrir para o mundo.
Por isso, minha amiga (esta vai em especial para as mulheres) pense duas vezes quando você estiver andando na rua e ouvir: “Gostosa!” Coisas do tipo jamais acontecem aqui, mas no Brasil não temos dificuldade em arrumar alguém se assim o quisermos.