Este texto começa com 2 histórias da minha infância.
A primeira aconteceu quando eu estava na segunda série do primário: no fim da aula, os alunos pegavam suas bolsas e desciam juntos em fila pro pátio pra esperar o responsável vir buscar. Neste dia, eu estava demorando a arrumar minha bolsa e minha professora da época virou pra mim e sem cerimônia falou “Cuida, sua mongolóide”. Eu nunca tinha ouvido essa palavra na vida e fiquei tão intrigada que quando vi minha vó (era quem ia me buscar na época) perguntei direto o que aquela palavra estranha significava.
Minha segunda história aconteceu alguns anos depois quando eu estava na oitava série do ginásio. Meu professor de História da época perguntou na turma porque a América tinha recebido esse nome. Eu mais que rápido levantei a mão e disse que era porque Américo Vespúcio tinha sido o primeiro a sobrevoar o continente americano e descobrir que a América era um novo continente e não as Índias como então era pensado. Este professor mais que rápido disparou que aquela resposta era uma das respostas mais idiotas que ele já tinha ouvido como professor (e era mesmo muito idiota, eu sei!).
Eu poderia aqui citar mais alguns outros exemplos que aconteceram comigo mostrando o despreparo dos professores brasileiros e alguns outros exemplos de professores maravilhosos que tive naquela época, que me ajudaram muito no meu processo de aprendizado.
Porque resolvi contar essas histórias de infância? Para exemplificar o despreparo da turma da educaçao de base. Não culpo os professores despreparados. Na verdade, eles são vítimas de um sistema e sociedade que dá cada vez menos valor ao conhecimento. Venho de uma família com vários professores e lembro vagamente deles fazerem cursos de aperfeiçoamento, novas técnicas de aprendizado, etc. Isso sem falar nos salários baixíssimos que eles recebem, o que os leva a trabalhar em várias escolas, acarretando numa carga horária pesada.
Eu estudei em escola particular até os 14 anos. Se isto acontece numa escola particular, imagina só o que não deve acontecer em escola pública.
Aqui professor de primário tem um salário decente. Eles também são obrigados a seguir pelo menos 2 meses por ano cursos de aperfeiçoamento. Meu filho só tem 19 meses e as duas professoras dele na creche tem um carro mais novo e maior que o meu ou do meu marido. Elas vivem fazendo cursos pagos pelo governo com técnicas de aperfeiçoamento. Outro dia conversando com uma delas descobri que antes dela se tornar uma professora de bebês ela teve que seguir um curso de 2 anos depois do Segundo Grau e mais 1 ano de estágio depois.
Não quero dizer com isso que aqui não tem professores ruins. Sim, eles existem aqui como em qualquer lugar do mundo. Mas acho que a probabilidade de um aluno ser chamado pelo professor em plena sala de aula de idiota ou debilóide é muito menor aqui do que no Brasil. Sonho com o dia em que eu possa dizer que a educaçao no Brasil (especialmente a pública) é de qualidade. Esta qualidade só será alcançada no dia que os professores forem valorizados pela importância que eles merecem ter. Afinal de contas, eles formam nossos filhos que serão o futuro do nosso país.